A cachaça ocupa um lugar privilegiado que poucos produtos do país usufruem. A bebida se parece genuinamente brasileira e é reconhecida oficialmente como o destilado do Brasil. O alinhamento do Estado com a cachaça no início do século lançou as bases para uma mudança da reputação da bebida no mercado doméstico e internacional. A relação entre a evolução do status, mudanças políticas e a formalização do mercado levou a criação de um novo conjunto de acessórios associados ao consumo da cachaça e autoridades de legitimação que são validadas pela ciência. Este trabalho analisa, a partir de documentos, da literatura científica e de uma pesquisa quantitativa, de que forma os diferentes indicadores de qualidade para a cachaça se consolidaram, como são elaborados e qual a percepção que consumidores, produtores, especialistas e comerciantes de cachaça têm deles. O estudo se desenvolveu enquanto eram analisadas as propostas de mudanças no Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) da cachaça, que se consolidaram no novo marco legal da cachaça. Os resultados desta pesquisa evidenciam que pessoas de classe média alta associam ciência e tecnologia a maior qualidade da bebida e são favoráveis a mais investimentos e divulgação neste campo. Os entrevistados consideram a falta de informação e de comunicação como o ponto fraco do destilado nacional, acreditam que exista um desequilíbrio de acesso a selos indicadores de qualidade, apresentam maior desconfiança de rankings de cachaça e tendem a consultar mais sites especializados na bebida, mas demonstram um baixo interesse por conteúdos ligados a questões regulamentares. Se as mudanças impactam na produção e rotulagem da cachaça, apesar de especialistas e produtores afirmarem que não afetam diretamente o consumidor final, interferem no campo cultural da cachaça.