Descrição:
Essa pesquisa tem como objetivo geral pensar diferentes agenciamentos de fluidos e substâncias corporais, em especial o sangue menstrual. Partindo de uma discussão sobre as formas como corpos e narrativas estão inseridos no universo das tecnociências contemporâneas, esta pesquisa indaga sobre os agenciamentos, as "múltiplas ontologias" do sangue menstrual.
Neste recorte, trata-se de pensar o sangue menstrual como substrato para a produção de células em laboratório, com a finalidade de produzir pesquisas científicas, e eventualmente terapêuticas nas áreas de medicina regenerativa, terapia celular e bioengenharia. No Laboratório de Cardiologia Celular e Molecular (LCCM) do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se realizam as pesquisas, espera-se que o sangue menstrual se converta nas “CeSaM” - “células-tronco/estromais mesenquimais derivadas do sangue menstrual".
A proposta desta pesquisa tem sido colocar em evidência, a partir de um trabalho de cunho socioantropológico, essas narrativas - inclusive visuais - sobre a vida celular das CeSaM, e suas potências. O projeto se engaja numa proposta de abordar etnograficamente a ciência “em ação”, com um enfoque politicamente situado. Propomos uma “simpoiese” com as CeSaM, o que envolve acompanhar a vida dessas células dentro e fora do laboratório, e fazer isso “com” as pesquisadoras que cultivam essas células em suas vidas profissionais.
Tem sido produzido um levantamento de artigos científicos nacionais e internacionais sobre as CeSaM, tendo como perspectiva comparar o universo de pesquisas que envolvem sangue menstrual com as que utilizam demais tecidos e substratos utilizados. Estamos também analisando a divulgação e repercussão desses artigos nas redes sociais e notícias de jornais através de uso de indicadores alternativos, a chamada altmetria, assim como avaliando a forma como a temática dessas pesquisas tende a (e pode) ser divulgada pelos comunicadores de ciência. Espera-se que essa abordagem etnográfica coletivamente constituída permita contribuir criticamente, e criativamente, para a discussão e a divulgação desse tipo de tecnociência brasileira contemporânea.