Descrição:
As condições de desenvolvimento humano, incluindo os processos de escolarização das crianças, foram profundamente afetadas pela pandemia do coronavirus, Covid-19, nos níveis locais e globais, desde o início de 2020. Um aumento exponencial no número de óbitos, a imposição do distanciamento social, o desemprego e o rápido empobrecimento das famílias em virtude do agravamento da crise econômica, estabeleceram novos desafios, particularmente no contexto da educação pública brasileira, alterando profundamente as relações família-escola. O recurso ao ensino remoto emergencial, visto muitas vezes como única alternativa diante das restrições sanitárias, impôs aos professores, às crianças e seus familiares novas condições de trabalho e de vida. No entanto, as dificuldades de acesso de muitos estudantes e professores a computadores e à internet mostraram-se como fatores impeditivos na concretização das relações formais de ensino. Vivenciando condições de profunda adversidade, um grupo de professoras/es das redes públicas de ensino vem se reunindo virtualmente, há vários meses, para discutir, estudar e pensar, de maneira coletiva, as possibilidades de realização do trabalho escolar no contexto de pandemia e pós-pandemia. A proposta inspirada no UN Research Roadmap for COVID-19 Recovery surge, então, como impulsionadora de um projeto coletivo de intervenção e investigação, com base no trabalho que vem sendo realizado por professoras/es que estão no “chão da escola” pública, enfrentando essas condições de restrição. Assumindo, portanto, a ancoragem teórica e metodológica da perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento humano, que já vem norteando os trabalhos do grupo, a proposta aqui apresentada tem como objetivos: 1. explicitar, com o coletivo de professoras/es das redes públicas, as condições concretas por elas/es vivenciadas, na busca de compreender como as condições de constituição do humano foram afetadas em decorrência das restrições impostas pela pandemia; e 2. fundamentar e analisar as práticas pedagógicas em realização. Os fundamentos metodológicos implicam diversos procedimentos e instrumentos para construção e registro dos dados empíricos (observação participante, registros em diários de campo, vídeo e áudio gravações, registros fotográficos; análise documental, entrevistas individuais e em grupo, encontros gerais e específicos com professores e pesquisadores envolvidos), assim como envolvem diversos procedimentos analíticos: inspiração etnográfica (Geertz), análise enunciativo-discursiva (Bakhtin, Vigotski), Clínica da Atividade (Clot). Deste modo, a pesquisa colaborativa pode repercutir em diversas instâncias educacionais, desde o trabalho em sala de aula até a proposição de políticas públicas. Dentre as possíveis contribuições, destacam-se: 1. O mapeamento das condições concretas de ensino; 2. A criação de novas condições de trabalho nas escolas; 3. A produção de conhecimento sobre as condições e possibilidades de desenvolvimento humano e a função social da escola.