Descrição:
A conservação e uso da agrobiodiversidade como estratégia alimentar e nutricional é prática milenar e tem sido valorizada desde a Convenção da Diversidade Biológica em 1992. Os agricultores, principalmente os tradicionais e de base familiar, ainda mantém essa prática, para diferentes tipos de usos, apesar da erosão genética ocorrida nas últimas décadas.
No Brasil, dos 5 milhões de estabelecimentos rurais, cerca de 77% são classificados como da agricultura familiar, que ocupam 23% da área de produção, emprega diretamente 10 milhões de pessoas e gera receita anual de R$ 130 bilhões (IBGE, 2017). Vale ressaltar que a agricultura familiar é a principal responsável pela produção de alimentos que são disponibilizados para o consumo da população brasileira.
Muitos destes agricultores familiares, são tradicionais (indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, cabrucas, etc), ou seja, são naturais do Brasil e utilizam variedades tradicionais, locais ou crioulas ou raças localmente adaptadas ou crioulas e mantém e conserva a diversidade genética.
Apesar da grande importância desse grupo de agricultores e das variedades crioulas, no Brasil ainda são incipientes as políticas públicas, pesquisas e ações focadas nos mesmos. Assim, uma importante contribuição é levantar, sistematizar e documentar informações relacionadas à conservação e uso da agrobiodiversidade, como potencializadora de geração de políticas públicas e levantamento de demandas para a pesquisa e outras áreas importantes para esse segmento produtivo.
Dessa forma, ações de diagnósticos sobre a conservação e uso da agrobiodiversidade, vem sendo realizados, há 20 anos, em comunidades rurais do Brasil, com o uso de métodos e ferramentas participativas. Os conhecimentos e experiências da primeira autora deste trabalho, contribuem também para o desenvolvimento e adaptação de novas ferramentas participativas, a exemplo de duas usadas aqui (Lista de Espécies Cultivadas e Diferenças entre Variedades Crioulas). Além dessas duas ferramentas participativas, foi adaptada a ferramenta Lista da Agrobiodiversidade, originalmente publicada por De Boef & Thijssen (2007).
Sendo assim, constam aqui dois conjuntos de dados com informações sobre a agrobiodiversidade da comunidade quilombola Feijão e Posse, localizada em Mirandiba-PE. Um conjunto de dados está relacionado à lista de espécies cultivadas (arquivo: espécies cultivadas), com outras informações associadas (nome da agricultora; espécie, se usa – 1 ou não - 2 a própria semente; número de variedades por espécie; importância da espécie para a agricultora: 0 = nenhuma, 1 = pouca, 2 = importante, 3 = muito, 4 = extrema importância ). Outro conjunto de dados se refere à Lista da Agrobiodiversidade (arquivo: agrobiodiversidade vegetal) com informações sobre nome da agricultora; espécie; nome da variedade crioula; Estimativa de anos que conserva; Origem da Variedade Crioula: (1) parentes/agricultor tradicional, (2) parentes/não é agricultor tradicional, (3) vizinho/agricultor tradicional, (4) vizinho/não é agricultor tradicional, (5) feira livre, (6) evento com agricultores tradicionais, (7) mercado/loja, (8) governo/variedade comercial, (9) governo/variedade tradicional, (10) outros, quais; Tamanho da área cultivada em hectares (ha); Espaçamento Utilizado em metros (m); Usos: (1) alimentação humana, (2) alimentação animal, (3) remédio/saúde, (4) rituais (religiosos, festivos), (5) venda, (6) outros, quais; Três características mais importantes da variedade crioula. O diagnóstico foi realizado com três agricultoras familiares, sendo identificadas 31 espécies diferentes, sendo que de apenas três (feijão, milho, mandioca) são usadas seus próprios materiais propagativos (sementes e estacas). Essas agricultoras conservam sete variedades crioulas diferentes, sendo três de feijão, duas de milho e duas de mandioca. Essas variedades são passadas ao longo das gerações, sendo que estão na família entre 10 a 40 anos. O uso principal é para consumo humano, sendo que um dos feijões é também comercializado e o milho também usado na alimentação animal. Em relação às características, os feijões diferem em relação ao tamanho das sementes, mas são similares em relação ao rendimento e resistência a pragas. Já os milhos são semelhantes ao tamanho grande das espigas e das sementes, porém somente um apresenta resistência a pragas. As mandiocas são semelhantes em relação ao tamanho grande das raízes, produção e cozimento.